Ainda quando trabalhava na SMEI, na ocasião de estar consertando um PC e na sala está acontecendo uma reunião com algumas pessoas, fui indagado meio que subitamente, pelo menos para mim, sobre o porquê não faço um concurso público haja vista me consideravam inteligente e capaz. Fui rápido e objetivo em minha resposta; talvez ate um pouco rude frente à situação.

- Não faço um concurso público pois não nasci para fazer a mesma coisa para o resto de minha vida. Escolho um trabalho pelo prazer e não pelo dinheiro.

Naquele momento meio que correu um silencio pela sala, onde todos se olharam e em seguida ecoou um som estridente de risadas. Não indaguei os presentes sobre o 'risadeio' tão menos me indaguei sobre tal acontecido, visto que, logo após minha resposta que pareceu a todos uma piada, voltei minhas atenções para o computador ao qual consertava. Todavia, umas das presentes, talvez motivada pela curiosidade chegou perto de mim e replicou: Mas aqui você não faz a mesma coisa sempre?

Parei! Voltei minha atenção para os presentes e percebi que comentários tipo: "É uma piada! Não gostar de dinheiro? Ele não sabe o que fala" ressoavam pela sala acompanhados de estridentes risos. Por alguns segundos eu observei os presentes e percebi que todos ali naquela sala acharam altamente ilógica a minha resposta. Então, soltei os equipamentos que estava na minha mão, pus-me de pé e falei a todos na sala.

- Deixe-me esclarecer o porquê de minha resposta.

Nesse momento a sala calou-se e todos me olhavam. Senti até um calafrio, mas comecei a esclarecê-los.

- Dinheiro é sim importante. Não posso viver sem dinheiro e por isso sempre levo isso em consideração ao aderir a um emprego. Mas, se Fulano me oferece R$ 10,00 e Ciclano R$ 11,00, sendo que no trabalho de Fulano vou está cercado de amigos, pessoas que querem o meu bem, pessoas que olham para mim com admiração e respeito, pessoas que respeitam as minhas habilidades e são altamente agradecidas pelo trabalho que presto, pessoas a quem nutro profunda admiração e com quem cultivo sinceras amizades, enquanto que, no trabalho de Ciclano só encontro inveja, desmotivação e mesmice. Com Fulano cada dia é diferente do outro, cada dia encontro um desafio novo, estou sempre em rápida e constante evolução. Já no trabalho de Ciclano vou chegar, sentar e passar o dia entediado conferindo números. Então eu vos pergunto: Qual a opção vocês escolheriam? Será que essa diferença tão minúscula de dinheiro vale a minha infelicidade no trabalho?

Nesse momento, a sala parecia um velório. Todos murmuravam, mas nenhuma voz sobressaia à de outro. Olhei-os, sorri e sentei. Enquanto sentava, num movimento que fazia parecer-me velho e cansado eu falava.

- Pois bem meus amigos, o emprego de fulano é este aqui que estou e o de Ciclano seria o emprego na área ao qual sou formado (me formando).

Então todos riram e eu voltei a consertar o computador. Ficou-me a impressão de que deveria ter falado mais, ficou-me a impressão de que não passei todo o meu ponto de vista, mas aparentemente o meu minúsculo discurso foi suficiente para conscientizá-los sobre minha opinião.

- Agora, em esclarecimento vos digo, que certa vez em que fui consertar um PC em uma escola e recebi ao fim de meu trabalho o seguinte comentário da diretora da unidade: "Meu filho vejo que você faz esse trabalho por que gosta. Parabéns! Nunca assisti um profissional com tamanha dedicação." Aquilo para mim foi algo realmente importante. Sai de lá revigorado e mais do que nunca com a certeza de que estava fazendo a coisa certa.

A felicidade depende exclusivamente do que fazemos e não do que ganhamos.